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Quisera eu ver o mundo em tons de cinza novamente...

Eu achava que era tão mais fácil ver tudo assim. Eu não precisava perder meu tempo identificando cores. É tudo cinza, ué? Pra quê cores? Para elas me afetarem por um tempo, e depois eu as perder?
Eu sempre perdia tudo, porque eu sempre estava indo embora.
os sentimentos me eram tão insípidos quanto a água filtrada, mas, diferente da água, estes me eram completamente desnecessários.

E você então quer se proteger de novo, se fechar para as cores, os sentimentos, as pessoas, o mundo, tudo! Voltar a ver em tons de cinza!
E você até tenta, mas...

Então, você desiste disso porque encontra alguém. E você decide se arriscar uma vez mais porque acredita que este alguém pode curar suas feridas, te encher de cor novamente, te fazer sentir coisas boas. Você se arrisca.

E, por um tempo você sente que fez bem. Você se abre de novo, e coloca aquela pessoa dentro de você, porque você não teme que aquela pessoa vá te ferir onde você vai se ferir mais. E você se sente ainda melhor com aquela pessoa lá dentro.
E, apesar da algumas alfinetadas lá dentro, e por muito tempo, você entende que as alfinetadas não são propositais, e por isso, acredita que estas irão cessar um dia, e que tudo será muito melhor.

Mas, um dia, você sente um cheiro pútrido que não devia estar ali. Segue o cheiro e vê um rio de sangue seco, e descobre que era seu.
Pior ainda, o rio ainda corre, e cresce cada vez mais caudaloso.
Você percebe que as alfinetadas encobriram rasgos, e talhos dentro de você; e pior, também as facadas e punhaladas, todas estas na suas costas, mas todas estas atingindo você em cheio lá dentro.

Você percebe que não sabia o quanto havia sido ferido por quem você queria proteger dentro de você. E então, a dor vem toda de uma só vez. Por dentro. Por fora. Entrando e saindo, passando por todos os poros de teu ser. Dói o peito. Dói o corpo.
Dói a alma.

E você se pergunta "porquê?!", e percebe que não há resposta.
Não havia motivo para terem feito isto com você.